terça-feira, 19 de julho de 2011

Era isso que eu queria dizer.






Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.Você não vai me ver mentir. Desista. Mentiria sobre a cor do meu cabelo. Sobre minha altura. Até sobre meus planos para o futuro. Mas não vou mentir sobre o que eu sinto. Nem sob tortura. Posso mentir sobre minha noite anterior. Sobre minha viagem inesquecível. Mas não agüentaria mentir sobre você por um segundo. Não na sua cara. Mentiria pras minhas amigas sobre a sua beleza. Diria que tem corpo de atleta e um quê de Don Juan (mesmo sabendo que elas iriam descobrir a farsa depois). Mas não me faça mentir e dizer que não te quero. Que eu não estou na sua. Não me obrigue a jogar. Não me obrigue a dizer “não” quando eu quiser dizer “sim”. Não me faça tirar você da minha vida porque meu coração ainda acelera quando você me liga. Insisto. Não perca seu tempo comigo. Porque eu não quero entrar no seu carro se não puder entrar na sua vida. Não me conte seu passado se eu não puder viver seu presente. Não faça planos comigo se não me incluir no seu futuro. Não me apresente seus amigos se, amanhã, vou virar só mais uma. Poupe-me do  trabalho de adivinhar seus pensamentos. Diga que me quer apenas quando for verdade. Diga que está com saudade apenas se sentir minha falta do seu lado. Peça minha companhia quando não desejar só meu corpo. Ligue-me quando tiver algo pra dizer. Mas, por favor, me desligue quando não estiver mais afim de mim.


Caio Fernando Abreu

http://dragoesnoparaiso.blogspot.com/



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Entre o sal e o sol.



Hoje sua voz subiu as escadas, mais uma vez. Uma voz que só se ouve no chiado do peito de um lobo, no estômago vazio de um animal ao despertar do inverno, no suor ao fim da febre. Nem flutuante nem submersa (se for pensar com os olhos fechados, não há diferença).
Me sustento inteira todos os dias apesar dos pesares, que são tantos. Recomeço. Firme sobre meus dois pés, bípede como uma humana. Sem ser pássaro, mas voando como um. Pés na terra e cabeça nas nuvens.
Quero a certeza das coisas, andar na grama sabendo que é grama e é verde, mesmo que a memória da grama nao esteja no saber do nome ou da cor, mas na carne da planta dos pés que sentiu o úmido, o frio, o medo e as cócegas.
Andar na areia quente até virar água e não ter mais fundo. Deitar meu corpo sobre a linha do horizonte e sentir mais uma vez o rosto queimar entre o sal e o sol.


(Giovanna M.)