segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"A Dança"

Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio Ou flechas de cravos que propagam o fogo: Te amo como se amam certas coisas obscuras, Secretamente, entre a sombra e a alma. Te amo como a planta que não floresce e leva Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores, E graças a teu amor vive escuro em meu corpo O apertado aroma que ascendeu da terra.  Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho: Assim te amo porque não sei amar de outra maneira, Senão assim deste modo que não sou nem és, Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha, Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.  Antes de amar-te, amor, nada era meu: Vacilei pelas ruas e as coisas. Nada contava nem tinha nome. O mundo era do ar que esperava E conheci salões cinzentos, Túneis habitados pela lua, Hangares cruéis que se dependiam, Perguntas que insistiam na areia. Tudo estava vazio, morto e mudo. Caído, abandonado, decaído, Tudo era inalienavelmente alheio. Tudo era dos outros e de ninguém, Até que tua beleza e tua pobreza De dádivas encheram o outono.


   (Pablo Neruda.)

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