segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O preço da flor.




O aviso me veio tantas vezes
sobre fechar as portas e as janelas
bater bem os pés antes de entrar
de uma vez nesses resguardos
de quem se entrega
sem medir o tamanho
dos tombos que vem depois.

É visível a dificuldade dos movimentos
levantar
mecânica
todos os dias
preenchendo os teus espaços
com sonos
para adiar realidades novas
na espera da coragem
de  estreá-las
acordo
olho para elas
recebo de volta o aperto
que o peito todo recebe
e choro
me lavo.

Levo ansiedades acumuladas
numa bagagem pesada
que o tempo me ajuda a carregar.

Lembranças
todas
regadas de carinho
talvez 
seja por isso
que não abro mão

ao invés disso
ignoro todos os espinhos
na tentativa de ainda
segurar a rosa.

Entre os excessos e as dúvidas.




O amor esse covil de loucos
esse danço mesmo 
sem saber dançar
esse cantar 
fora do tempo das músicas. 

O mesmo amor que morde

e te tira o sangue
causa essa saudade de arder

nunca entendo

mas tento

desconfio até
que nossas mortes
vão se dar
numa dessas tentativas.

sábado, 4 de outubro de 2014

Sinais.

Quase não tem jeito
 pra esse coração
que se espalha
pelo corpo
 sem riso
que disfarce
ou lágrima
que possa juntar.

(Percebeu já era tarde
se auto medicava
tentando curar
hipóteses criadas
em 22 vidas de auto destruição).

Mas se ainda existir
ligue os pontos dela
até ela
pra ela.

Aponte uma saída
que não seja de emergência.
Entenda
que sonhos são bem vindos
em todos os sentidos
mas só traga bomba pra casa
quando for de padaria.

Se ofereça
sempre
se possível
leve tempo
colo
café
adoçado com soluções
(não paliativas).

E se tua frase ainda vier
com esse "quase"
é sinal de que vale a intenção.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sobre os conselhos que não dei.




Largue a pressa, as conversas fingidas, os horários, a métrica. Não pise só nos pisos da mesma cor. Não conte mais as sílabas da sua frase.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Construção




Era feita de saudades, dessas que pesam feito piano sobre as horas.

Dos dias em que a poesia não vem.




Acontece que acho difícil ser feliz, porque a felicidade espanta as palavras e eu não sei existir sem elas.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Das anotações nos rodapés dos dias.




Guardo todas as nossas fotos, recentes ou não, pra perceber que o tempo passou voando mas o amor soube exatamente onde pousar.

domingo, 1 de junho de 2014

A vida em 8 minutos:




18:39 desfaço meus planos
18:40 me jogo no chão
18:41 fiz uma bagunça tremenda 
18:42 que bagunça bonita
18:43 as lágrimas secam
18:44 subo e olho de cima
18:45 fotografo a bagunça
18:46 me apaixono por tudo
18:47 retomo com paixão dilatada
18:48 tenho todos os novos planos do mundo.

sábado, 17 de maio de 2014

Constatações.




Acho precioso demais registrar as coisas, a gente se esquece da efemeridade e faz de conta que é possível controlar o tríplice mistério do stop que acontece sem nenhum consentimento ou previsão. Nos meus olhos e nos dos outros envelheço e vou indo sem saber pra onde, nas fotografias permaneço, talvez um pouco amarelada, machucada pelo tempo, mas por um instante nos guardados até pareço ser quem costumava pensar: o agora vai ficar pra  sempre.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Solar.






Que venha o verão
para tingir de
amarelo as ruas cinzas
para lacrimejar
os olhos 
diante do céu
para tecer
movimentos de
sorrisos abertos
para fazer validar 
todos os compromissos.
Que venha o verão
para incentivar
a noite, o festejo,
os encontros,
para florir
as estampas
dos tecidos
engavetados
para raiar na janela
convites à vida
para colorir
de laranja a pele
atrevida.
Que venha o verão
para as janelas abertas
Que venha o verão
para o gelado na garganta
para o chão escaldante
sob o pé preto
gasto de andanças
para as figuras
na areia com graveto.
Que venha o verão
para reprimir o frio
para excitar as vontades
para exercitar as dobras
Que venha o verão
para me fazer nua
crua
pura
sua
a cada mudança
de estação.

Recados amarelados.



Meu nome é Maria Mole e essa sensibilidade me faz chorar por tudo se não transpasso-a em amor, papel ou câmera. Mas esse texto é algo que todos deveriam fazer: Uma carta. Algo endereçado pra você mesmo, há dez anos atrás, ou para dez anos à frente, o importante é guardar pra depois ler. Sendo minha vez, acho que diria tanto ao passado quanto ao futuro: Minha menina, não se preocupe tanto com as coisas tolas, aprecie os detalhes mais simples, as pessoas e seus cheiros, sinta/seja abrigo e até abandono se preciso for mas, por favor, faça breve o que for ruim. Observe mas saia deste transe, busque despertar suas tantas consciências, estale os olhos pra vida antes que o façam por ti. E de resto, está no teu peito o trajeto, é tudo caminho. Cada erro vai te fazer melhor e mais forte, cada tombo é soma, é ponto de compreensão. Um dia irá entender que as pessoas são responsáveis por si mesmas, então, não te culpa tanto, procura evitar o desgaste físico e emocional, olha pra dentro o tanto que conseguir e florescerá para fora. Uma observação bonita no final é a certeza de que vai chegar uma pessoa linda pra te cuidar, e será o teu ponto de busca maior, vocês aprenderão tanto um com o outro. Essa passagem será tão maravilhosa que será capaz de te fazer ir além. Acredite que a beleza vem de dentro pra fora, nunca deixe que te apaguem a fé, nada te machucará se não for da tua vontade, tudo te acrescentará. Procura usar os ingredientes com sabedoria, entenda que a vida necessita de dosagem pra funcionar corretamente.

Vai sem pressa e logo estará aqui, escrevendo uma carta pra si.

Pretérito quase perfeito




E não tem um dia que, no meio da minha solidão macia, deixe de esperar as ligações noturnas ou iniciativas tuas. Das faltas que sinto, a maior e mais doída era do que costumavas ser. Os modos pelos quais me apaixonei, o conjunto de bobagens e os carinhos já tão mortos. As flores que secaram na espera de cuidados e os meus dias gastos por amar demais. 

Ontem foi um dia cheio de compromissos, tristezas, vazios, saudades e desacostumar. A ansiedade me maltrata a cada hora que se passa, troco os pés pelas mãos nas muitas versões do que eu sou, na convicção de que o que era pra ser já foi. Se me deito em dúvidas, levanto com certezas, uma delas é sobre o remédio do tempo e seus sinais. Nada é mais preciso e precioso do que esperar passar, se convencer disso antes mesmo de arredar as cortinas de manhã. Abrir as janelas e conseguir reparar algo além do próprio caos.