terça-feira, 29 de abril de 2014

Solar.






Que venha o verão
para tingir de
amarelo as ruas cinzas
para lacrimejar
os olhos 
diante do céu
para tecer
movimentos de
sorrisos abertos
para fazer validar 
todos os compromissos.
Que venha o verão
para incentivar
a noite, o festejo,
os encontros,
para florir
as estampas
dos tecidos
engavetados
para raiar na janela
convites à vida
para colorir
de laranja a pele
atrevida.
Que venha o verão
para as janelas abertas
Que venha o verão
para o gelado na garganta
para o chão escaldante
sob o pé preto
gasto de andanças
para as figuras
na areia com graveto.
Que venha o verão
para reprimir o frio
para excitar as vontades
para exercitar as dobras
Que venha o verão
para me fazer nua
crua
pura
sua
a cada mudança
de estação.

Recados amarelados.



Meu nome é Maria Mole e essa sensibilidade me faz chorar por tudo se não transpasso-a em amor, papel ou câmera. Mas esse texto é algo que todos deveriam fazer: Uma carta. Algo endereçado pra você mesmo, há dez anos atrás, ou para dez anos à frente, o importante é guardar pra depois ler. Sendo minha vez, acho que diria tanto ao passado quanto ao futuro: Minha menina, não se preocupe tanto com as coisas tolas, aprecie os detalhes mais simples, as pessoas e seus cheiros, sinta/seja abrigo e até abandono se preciso for mas, por favor, faça breve o que for ruim. Observe mas saia deste transe, busque despertar suas tantas consciências, estale os olhos pra vida antes que o façam por ti. E de resto, está no teu peito o trajeto, é tudo caminho. Cada erro vai te fazer melhor e mais forte, cada tombo é soma, é ponto de compreensão. Um dia irá entender que as pessoas são responsáveis por si mesmas, então, não te culpa tanto, procura evitar o desgaste físico e emocional, olha pra dentro o tanto que conseguir e florescerá para fora. Uma observação bonita no final é a certeza de que vai chegar uma pessoa linda pra te cuidar, e será o teu ponto de busca maior, vocês aprenderão tanto um com o outro. Essa passagem será tão maravilhosa que será capaz de te fazer ir além. Acredite que a beleza vem de dentro pra fora, nunca deixe que te apaguem a fé, nada te machucará se não for da tua vontade, tudo te acrescentará. Procura usar os ingredientes com sabedoria, entenda que a vida necessita de dosagem pra funcionar corretamente.

Vai sem pressa e logo estará aqui, escrevendo uma carta pra si.

Pretérito quase perfeito




E não tem um dia que, no meio da minha solidão macia, deixe de esperar as ligações noturnas ou iniciativas tuas. Das faltas que sinto, a maior e mais doída era do que costumavas ser. Os modos pelos quais me apaixonei, o conjunto de bobagens e os carinhos já tão mortos. As flores que secaram na espera de cuidados e os meus dias gastos por amar demais. 

Ontem foi um dia cheio de compromissos, tristezas, vazios, saudades e desacostumar. A ansiedade me maltrata a cada hora que se passa, troco os pés pelas mãos nas muitas versões do que eu sou, na convicção de que o que era pra ser já foi. Se me deito em dúvidas, levanto com certezas, uma delas é sobre o remédio do tempo e seus sinais. Nada é mais preciso e precioso do que esperar passar, se convencer disso antes mesmo de arredar as cortinas de manhã. Abrir as janelas e conseguir reparar algo além do próprio caos.